Minha lista de blogs

terça-feira, 27 de julho de 2010

Mais um dia no paraíso... Onde mesmo?

O dia começou muito cedo hoje, cinco horas da manhã.
Há algum tempo que minha mãe inventou de acordar-me no melhor do meu sono, pra perguntar as horas, porque ela acha que seus DOIS relógios estão errados.
Acontece que às cinco da matina, está tudo escuro. Onde será que ela quer ir a essa hora?
Bem, eu acordo pistola da vida e vou tomar meu remédio para pressão alta, pois a dor na cabeça é instantânea e insuportável.
Você me pergunta: nossa, mas tem isso nas características do portador de Alzheimer. Respondo: não!
Já perguntei ao médico dela e ele me disse que os doentes dormem super bem devido à medicação.
Então o que pode ser? Duas coisas:
1ª) Ela não quer que eu me esqueça que ela existe, nem no único período do dia que eu tenho só pra mim. Então faz isso de propósito.
2ª) Como ela não faz absolutamente nada durante todo o dia: não lava, não passa, não limpa, não cozinha (só aos domingos eu a deixo fazer sua comidinha); fica sentada na cadeira de área, vendo TV de longe ou deitada no sofá; anda pra rua três ou quatro vezes por dia, atrapalhando quem tem o que fazer, enfim, ela não cansa nem o corpo, nem a cabeça... como vai ter sono?
Quando eu falo de cansaço, muitas pessoas não entendem o que eu quero dizer. Então taí uma amostra do quanto um demente de Alzheimer pode estressar uma pessoa normal que, embora seja sua cuidadora, também tem vida própria (ou tinha).
O pior é que pra fora de casa, ela reclama de mim; mente sobre a vida dela; jura que se mata de trabalhar; fala que eu não digo que dia é; que agrido ela (pois é); que não faço companhia (como assim? Eu fico em casa o dia inteiro, salvo raras exceções); que eu a xingo; e por aí vai. O problema não são as mentiras, mas quem escuta, pois não sabe o real estado dela (ela engana bem, muito saudável). Eu me vejo em cada encrenca, dando satisfação pra pessoas que ouviram os disparates dela e vêm me repreender. Não é mole.
Quer ver. Ontem, ela me perguntou: será que o Dahyl me leva na casa da Gonha, faz tanto tempo que eu não a vejo. Minha irmã lanchou com ela na semana passada. Ah! E ainda reclamou que seus filhos não têm sentimentos, não vêm vê-la, mesmo sabendo que está doente. Do jeito que ela me  'massacra', é normal que meus irmãos não queiram cuidá-la. Não é justo, mas eu os entendo. Sobrou pra mim.
Enfim, têm dias em que eu penso: nunca deveria ter deixado meu trabalho, mesmo com a melhor das intenções. Cada um que fizesse sua parte e pronto.
E, hoje, ainda tenho que levá-la ao médico, em Bauru, de ônibus e aguentar o falatório sem fim e o mau humor dela, quando sai de casa. Valha-me Deus.