Às vezes, eu acho que sou boba. Fico aqui escrevendo, contando o que se passa na minha vida, fazendo um diário pras pessoas.
Aí tem dia, como 2ª passada em que eu ameacei ir procurar a justiça, falar com o juiz, sobre o fato dos meus irmãos não ligarem pra minha mãe, nem pra mim, mesmo sabendo que ambas estamos doentes: ela com Alzheimer e eu com cansaço. Só que eu não fui. Não tive coragem.
Fico pensando: e se um processo atrapalhar as carreiras deles? O Dahyl, o mais esforçado em ajudar, está há mais de 20 anos na Tilibra, não pode ter sua reputação abalada, é um excelente profissional. O Reca, apesar de eu achá-lo um bandido fardado, também tem uns 20 anos de polícia, não pode perder o emprego e, a Gonha... a Gonha acabou de divorciar-se e há pouco tempo voltou a dar aulas, como os patrões dela iriam reagir a uma ação judicial contra ela e os outros?
Não posso!
Por mais que me doa ver minha mãe largada por eles, não posso fazer nada que os prejudique. São meus irmãos, eu os ajudei a serem pessoas decentes. Fui eu, a mais velha, que puxei o bonde.
Eu gostaria muito que eles participassem do processo de progressão da doença, porque a mãe, logo não vai mais reconhecê-los. E honrar a mãe é mandamento com promessa "para que se prolonguem os seus dias na terra". Não quero enterrá-los por não terem cumprido uma ordem divina.
Tenho medo, também, por isso fico agressiva. Eu podia ter construído uma vida nestes 9 anos de servidão; uma casa, um carro, um família. Teria onde morar e quem cuidasse de mim, mas não tenho nada disso.
E se quando a mãe morrer eles quiserem vender a casa? Mesmo cientes de que eu mereço ficar aqui, pois cuidarei dela até o fim? Da maneira como se portam, não posso concluir outra coisa. E eles vão sumir, eu ficarei sozinha. Tudo isso me apavora. Eles não entendem, não passam por nada parecido.
Ontem meu querido Dahyl veio, querido sim, eu o amo, assim como aos outros, apesar de tudo, e ficou um pouco com a mãe. Eu saí cedo de casa. Queria um tempo só pra mim, aliás, é só isso que eu peço a eles. A mãe já se sentiu mais querida, com os netinhos aqui. Ela estava com saudades deles. Eu também tenho, muita, mas prefiro não criar laços, pois sei que não vou tê-los por perto quando precisar. E tem a Renata, pessoa de quem eu não gosto, não adianta tentar, mas é a mãe deles e eu tenho que engolí-la, então prefiro me afastar.
Custava o Reca vir, pegá-la de carro e levá-la pra ficar com ele algums horas. Ele foi e sempre será o preferido dela. Minha mãe fez coisas medonhas conosco, os outros filhos, para favorecê-lo. Então, reconheça isso e dê-lhe um pouco de atenção e amor. Não deixe só pra mim, eu estou tão estressada que, às vezes, tenho vontade de pegar um ônibus pra qualquer lugar e não voltar nunca mais. Eu PRECISO DESCANSAR, não sou de ferro, como meus irmãos querem crer. Sou igual a eles, preciso do que eles precisam, anseio pelo que eles anseiam. Sou um ser humano e, não me gabando, de 1ª qualidade. Não dá pra me valorizarem? Por quê? Porquê fui dura demais com eles. Tinha que ser. Alguém tinha que colocar rédeas nas situações.
Bem. Fica aqui meu desabafo de hoje. Espero que quem lê-lo, compadeça-se de mim e tente ajudar-me de alguma maneira. Não tô suportando mais tanta pressão.
Uma boa semana a todos, queridos amigos.